MB é Mônica Bernardes no espelho…

Ouça Mônica Bernardes falando sobre sua paixão pela arte da joalheria…

“Uma forma de expressão criativa. Através do trabalho na joalheria que eu me expresso uma forma criadora. É dentro desse universo da expressão da forma especificamente no metal que eu encontro a minha forma de expressão. Nada me faz mais feliz do que estar em contato com o metal, trabalhando com esse metal de uma maneira que eu percebo que deve ser trabalhado. Eu não consigo falar do meu trabalho da joalheira da maneira técnica, embora eu reconheça que a parte técnica seja importante, seja fundamental, sabendo o caminho de cuidar do metal, de manipular o metal, de fazer o metal passar do estado liquido para o sólido, no fio para a chapa, para as formas que começam a tomar a partir do trabalho com as minhas mãos. Existe uma técnica mas eu encontro a minha expressão dentro da arte da joalheria me conectando mais com a ideia de buscar o elemento forma”.

Mônica Bernardes.

O processo criativo – Então, assim como um artista consegue buscar no elemento tinta sobre tela, por exemplo, a sua maneira de expressar, eu consigo digamos no metal chegar ao resultado que me satisfaz como artista. Então, as pessoas acham engraçado eu não desenhar, não desenho no trabalho, eu não desenho em forma linear, eu não consigo. Aliás, talvez eu não deseje de fato me expressar na forma de um desenho. Então eu vou sentindo na medida em que eu vou transformando aquele metal, aquele fio, aquela chapa… vou recortando, vou juntando pedaços, vou soldando, vou sentindo o que devo fazer… é quase uma escultura! É assim que eu concebo a peça de joalheria Mônica Bernardes”.

Mônica Bernardes.

O momento da entrega –  E a entrega dessa joia pra pessoa que será a pessoa que vai  usar essa joia é algo que realmente me encanta! Gosto desse momento e contato… eu interpreto não como momento da venda, eu interpreto como o momento da entrega: Toma! Essa obra agora é sua, eu compartilho com você! Então é muito gratificante o trabalho  com a joalheria e chega a me emocionar porque toda aquela execução de algo que partiu do campo das ideias, adentrou o campo da concretude e passou fazer parte digamos  da vida de alguém… Então a pessoa chega e fala: Nossa! Aquele brinco, Mônica, eu não tiro da orelha, virou meu bate-enxuga! Então é muito gostoso, isso é muito comum eu ouvir, é muito freqüente… aliás isso me deixa profundamente feliz”.

Mônica Bernardes.

Como tudo começou – Eu devia ter 5 anos de idade e descobri que eu poderia fazer pulseirinhas de missangas, combinando cores, contrastando cores…  E daí minhas irmãs, são muito mais velhas do que eu, podiam comprar pra mim essas missanguinhas e levavam e eu ficava no aguardo de chegar os saquinhos das missangas cor de laranja, vermelha, branquinha, pretinha… E eu fazia aquelas combinações no nylon, e a ideia era combinar várias pulseirinhas de nylon amarradas com nylon e com nozinho, e a pessoa ficava com aquela pulseirinha ali, a ideia daquela fitinha do Bonfim  até arrebentar. E eu vendia pra minhas amigas, sugeria a composição das pulseirinhas que nenhuma era igual e vendia debaixo do prédio, isso eu fazia, creio eu quando tinha uns sete oito anos de idade. E daí fui mais pra frente sempre me expressando, gostando de me expressar nessa campo da harmonização estética de cores e formas… Eu fui caminhando, passei pelo campo da bijuteria, durante muitos anos foi por lá que eu tive a forma de compreender como os elementos dentro desse campo dos adereços podem se combinar e podem se harmonizar até que em 2010 eu fui descobrir a arte da joalheria e ingressei nesse campo. Então, comecei de uma maneira assim, vamos ver no que vai ser, e acabei me apaixonando e vendo que realmente não daria para eu entender a joalheria somente como um hobby como um momento de prazer.  Precisava produzir para que eu pudesse produzir mais cada vez mais eu precisava vender. Então comecei vender algumas peças e enfim em cima desse sucesso, desse prestigio das pessoas que queriam adquirir uma peça que eu fazia eu fui me firmando neste campo aqui em Brasília. Começamos  em 2010  e aí  passaram-se  7 anos e hoje agente está dentro de uma condição assim bastante interessante, em uma fase de doutorado. Já nessa fase acadêmica estudando criatividade e inovação, tendo feito mestrado também nessa área de criatividade, posso hoje desenvolver o trabalho da joalheria integrado a essa forma de ver o mundo, de uma maneira sempre nova e criativa. Então esse foi o começo de tudo, e na verdade é o eterno começo, eu entendo o começo como sendo um eterno começo”.

Mônica Bernardes.

A vida como fonte de inspiração e a joalheria como canal de expressão subjetiva

A vida como fonte de inspiração e a joalheria como canal de expressão subjetiva – Eu acho muito interessante o trabalho da joalheria em relação ao que ela nos exige.  Aquela eterna percepção de que não sabemos tudo, aquela situação diante dos desafios… A joalheria sempre nos coloca nesta situação, sobretudo quando você tem uma perspectiva, dentro da joalheria, que é essencialmente criativa, como é meu caso. Quando eu sento na bancada, normalmente eu não sei bem o que vai me ocorrer de criar. Eu começo a manipular os materiais, se eu tenho já uma chapa de prata, eu começo a olhar pra ela como que namorando… vou me aproximando e vou fazendo uns ensaios e na verdade não sei dizer pra você se eu vou criar um anel, se eu vou criar uma pulseira,se eu não vou criar nada, se eu vou levantar da bancada uma hora depois que por lá eu estiver… isso é imprevisível,  o trabalho criativo é imprevisível. Então existe essa situação muito interessante, e às vezes eu me pego trabalhando com 2 ou 3 coisas ao mesmo tempo, começo a fazer uma pequena peça, na ideia de chegar a um brinco, e no que estou fazendo aquela peça de um brinco surge nas  minhas mãos um elemento que é parte de um brinco e eu já vejo um anel. Mas eu não vejo um anel pronto, eu vejo alguma coisa que começa a se esboçar como um anel e aí eu vou começando a procurar quando eu vejo eu estou mais interessada em desenvolver aquela ideia do anel do que o brinco. E aí eu falo “nossa, a gente acha que está dominando, mas na verdade a gente está sendo dominada por uma força”- algo passa por você, você faz algumas escolhas… algumas decisões evidentemente que são suas, mas aquilo não é totalmente seu, não está determinado por nada, a coisa é fluida, e naquele momento de atenção profunda ele vai gerando essa tensão ao ponto de você conseguir concretizar, materializar alguma ideia, aí aquela peça que você passou a materializar começa a fazer sentido pra você. Então, contar aquela história daquela peça, repetir aquela peça, algumas inovações, algumas versões… elas passam a acontecer e aí isso é muito interessante. Essa semana eu estive fazendo exatamente essa ideia,  uma peça que eu fiz pra mim sem muita pretensão, andei usando, andou fazendo o maior sucesso. Então, resolvi: vou partir para fazer uma pequena escala dessa peça, até em condição de encomenda que surgiu.  E aí, no momento que eu peguei para fazer  a peça, na verdade não era novidade eu só estava executando o trabalho de fazer de novo, percorrer o caminho que eu já tinha percorrido no momento criativo e aí neste momento acabei criando um brinco e um anel, um brinco bem harmonizado, o anel já um pouco diferente, mas dentro desse momento, desse processo criativo”.

Mônica Bernardes.